Caríssima amiga Assistente Social Beatriz Cristina Santos de Souza, de Esteio, RS
Nossa amizade e comunhão se aprofundam e frutificam a partir e entorno do amor ao Brasil e à luta contra o golpe opressor que se abate sobre nosso país.
Abraços ao seu esposo, que pede para não publicar o seu nome por razões profissionais e de segurança. Mas a amiga me disse que ele participa de sua profunda indignação com relação às injustiças que nos perseguem.
Comovi-me e me amargurei com sua mensagem por what’s app a respeito das atrocidades e violências verbais que a amiga sofre por parte de membros do seguimento “renovação carismática” – a RCC.
São chocantes as agressões em forma de calúnias, mentiras, injúrias e ódio contra Lula, o MST, o PT, a CUT, a CTB etc. Evidentemente não é nada cristão denominar pessoas de vagabundas, bandidas e, no sentido mais pejorativo e falso possível, de comunistas.
A amiga se choca e se entristece profundamente com acusações eivadas de tanto ódio por parte de um grupo do qual participava e com quem se alimentava espiritualmente para ser agora tão maltratada por sua opção política na defesa do Brasil, que foi golpeado.
Cabe-me renovar o alerta de que não tenho o menor interesse de polemizar com posturas religiosas, teológicas e confessionais de quem quer que seja. Pelo contrário, sou um contumaz ecumênico e macro ecumênico que me oriento pelo princípio de que quanto mais unidade melhor para nosso povo.
Este blog não pertence a nenhuma igreja ou religião. É meio profissional de debate político. É nesse sentido que discuto a incoerência de cristãos apoiarem Jair Bolsonaro pedindo votos para ele e ainda adotarem sua corrente fascista de ódio e de destruição dos outros.
Costumo repetir que não tenho nada a ver com as igrejas e religiões dos outros, mas quando vêm para o campo político, ah isso me interessa e importa a todos os cidadãos e cidadãs.
Opinar, debater, participar e lutar politicamente é direito e dever de todas as pessoas. O erro dos cristãos que defendem e adotam Bolsonaro é a contradição entre todo o patrimônio do amor ao próximo, da defesa do outro, da unidade pela libertação como bem o demonstra a marcha do êxodo em busca da terra prometida e de Jesus no enfrentamento da Cruz.
Os evangelhos dominicais deste calendário de 2018, notadamente com base nas experiências descritas por São Marcos, sinalizam, por um lado, que Jesus sempre amou – no sentido de que abraçou libertadoramente sem preconceitos aos mais desprezados e deteriorados pela casta dominante na Palestina de seu tempo. As cidades ditas pagãs ou ímpias, mais desprezadas pelos conservadores do judaísmo foram, de longe, as preferidas pelo Galileu. É só observarmos com cuidado e estudo que setores amados por Jesus e seus comportamentos populares, em oposição à elite judaica, esquecida das raízes oprimidas e das lutas no Egito, eram muitos semelhantes aos odiados por Jair Bolsonaro e seus seguidores no Brasil, hoje. Tanto, que muitos são ameaçados e até mortos pelo fanatismo fascista que empolga esse candidato cheio de ódio.
Por outro lado, uma leitura atenta mostra que quem se movia com ódio, com tentativas de dividir o grupo de Jesus e de indispô-lo com o povo eram os mais conservadores, colaboracionistas de império romano, cuja marca era o preconceito, o desprezo aos mais humildes e as calúnias contra Jesus. Contraditoriamente também se consideravam os mais religiosos e puros do que Jesus e os discípulos dele. No entanto, os mesmos fariseus, saduceus, escribas, sacerdotes do templo de Jerusalém e outros se uniram aos apoiadores do temido e odioso Herodes, o partido chamado herodianos, para perseguir Jesus e colaborar com sua eliminação. Sem dúvidas, o julgamento ilegal, na calada da noite e à condenação por suplício da cruz, cuja pena era dedicada pelo direito romano aos criminosos e aos sediciosos, foi destinada a Jesus, que nela foi incluído como líder de uma fantasiosa e preconceituosa insurreição contra o império romano, invasor e violento.
Ao vermos pessoas da renovação carismática e os evangélicos fundamentalistas, os mesmos alinhados à bancada evangélica ou da bíblia no Congresso Nacional, notadamente golpistas, votantes de todas as medidas mais injustas e prejudiciais aos trabalhadores e ao Brasil, defendendo inclusive Michel Temer e com ele buscando vantagens para suas igrejas e projetos, agora fazendo campanha para Jair Bolsonaro, adotando o discurso e a linguagem de ódio daquele candidato notoriamente fascista, machista, racista e homofóbico, não conseguimos entendê-los como comprometidos com Jesus de Nazaré.
É justa a participação política desses seguimentos ditos cristãos, mas não da forma mais torta, desumana e contrária à paz, como o fazem.
A impressão que passam é de que não conhecem a Bíblia, que nunca leram os evangelhos, de que não sabem quem é Jesus.
Parecem ser dominados irracional e afetivamente por forças tiranas que os tornam incapazes de enxergar, de ouvir e do juízo honesto.
Fala-se muito nos tais pastores capitães do mato, coronéis e tiranos que manipulam seus “rebanhos” feitos efetivamente de ovelhas obedientes e sem consciência. Seriam os evangélicos que defendem Bolsonaro com todo o seu arsenal anti povo, apesar de seu banho no Rio Jordão, que ele chamou de batismo por imersão, cordeiros sem juízo e sem vida própria?
E os seguidores da renovação carismática seguem a quais tiranos? A Opus Dei, a TFP? Quem são os coronéis dos católicos romanos sem juízo ao ponto de querem ajudarem Bolsonaro numa aventura perigosa na destruição do Brasil, de sua democracia, de sua soberania e sua honra política no conserto internacional?
Certamente quem xinga sem debater, quem valoriza como vagabundos a homossexuais, aos sindicalistas, a quem luta pela reforma agrária num país onde uma minoria se apropria da terra com objetivos especulativos e envenena os alimentos, aos que defendem o direito das mulheres a decidirem sobre si mesmas com relação a gravidez e posturas na vida, não pode dizer que se alimenta na eucaristia do mesmo que disse “isto é o meu corpo e isto é o meu sangue” nem a palavra do que se fez carne e habita entre nós.
A minha cara amiga Beatriz se confessa decepcionada, triste e hostilizada pelas calúnias e ofensas que ouve de seus irmãos e de suas irmãs da renovação carismática quando defende o direito à liberdade do ex presidente Lula e quando tenta explicar a inviabilidade da candidatura de Bolsonaro como defensor da tortura, da ditadura sanguinária, da destruição da democracia, da defesa do armamento da população com o objetivo de ajudar o mercado de armas e tirar todos os direitos dos mais pobres. Tudo o que minha amiga ouve não é em forma de argumentos sensatos, embasados e respeitosos, mas com fúria e adjetivos que desfiguram as pessoas e desqualificam o outro.
O movimento dos cristãos bolsonarianos é barulho de latas vazias, sem conteúdo, sem estudos, sem inteligência de quem não conhece nem Jesus nem a Bíblia. São latas vazias com grande dose de ferrugem, que certamente deterioram a vida e a sociedade.
Nenhuma coerência. Deveriam se declarar logo hereges e fariseus na missão de entregar Jesus e de matá-lo novamente, se puderem. Talvez desta vez fuzilado como prega seu novo Messias, agora hospitalizado por ensinar a odiar.
Abraços críticos e fraternos.
Dom Orvandil, bispo cabano, farrapo e republicano.
[…] à revitalização da democracia e da paz, de correntes fundamentalistas como as de setores da renovação carismática, de padres e bispos do estilo reacionário de Marcelo Tenório, de Paulo Ricardo e de segmentos […]