Quando me deparo com pessoas de histórias gloriosas de luta contra as injustiças representadas pela ditadura civil-militar, por exemplo, me pergunto por que força e que paixão as moveu a tantos sacrifícios e enfrentamentos, muitas sabendo dos riscos da perda da vida.
Por outro lado, me espanto com as que lutaram bravamente, quer diretamente ou sendo parceiros/as leais absolutos/as de quem se entregou aos sacrifícios e que, por alguma razão não explicada, se perderam e se desviaram do rumo da luta.
Esse parece ser o caso de Clarice, viúva do jornalista Vlademir Herzog.
Em entrevista à Folha de São Paulo ela narra a dor da perda do companheiro nas masmorras das torturas e assassinatos, verdadeiros porões do inferno no DÓI/CODI de São Paulo.
Clarice falou movida por uma consciência viva que, para mim que acompanhei o caso muito de perto, revivi o drama da ditadura como se fosse comigo e acontecesse ontem.
A combativa senhora, mesmo alquebrada pela idade, falou com destemor, coragem e vibração.
Sua entrevista causa vigor e emoção de garra para a luta. É um maravilhoso testemunho, dado com lágrimas e sangue, que deveria ser guardado em precioso arquivo.
Sua repulsa à ditadura e a todos os ranços carregados do ódio da elite demente e golpista de São Paulo é fumegante.
Porém, tudo parece cair nas cinzas e na sarjeta quando Clarice faz um exercício de fragmentação, fratura, tortura e assassinato da realidade.
Quando o repórter Marco Rodrigo Almeida lhe pergunta em quem votará para presidente, Clarice parece cair nos porões da ditadura e se faz torturadora da realidade, distorcendo-a brutalmente. Escarra sobre a memória de seu mardio torturado e assassinado. A viúva responde que votará em Geraldo Alckimin, o tucanano neoliberal, golpista e continuador do que há de pior que a ditadura não conseguiu concluir.
Pior, Clarice se declara de esquerda com críticas contundentes e justas com realção ao nazista Jair Bolsonaro, mas gosta do chuchu apoiador do vampirão neoliberalista MiSchell Temer e que gosta muito do banqueiro golpista Henrique Meirelles que, como ministro quadrilheiro, tudo fez para ajudar a destruir o Estado Brasileiro.
O que faltou a Clarice? Parou de estudar? Passou a se deixar mediar pelo noticiário fake news e golpista da Globo? “Converteu”-se a alguma igreja fundamentalista ou, na verdade, essa parte da notícia é fake news da Folha como propaganda para o pior governador que São Paulo já teve?
Com essa traição à sua própria história, diferentemente de Oscar Niemeyer, de Luis Carlos Prestes, de João Amazonas, de Dom Helder Câmara, de Dom Paulo Evaristo Arns e de outros que envelheceram e morreram incorrupitíveis, sem se desviarem de sua lealdade com o evolução econômica, social e política, Clarice Herzog finda sua tragetória colaborando com a mesma direita que se originou nos assasssinos de seu marido, torturadores da justiça social e da revolução, da qual Vlado era um dos sujeitos.
Clique aqui para ler a íntegra da entrevista de Clarice Herzog.
Loucura. Geraldo Vandre repreendeu pessoas com faixas pedindo justiça ao caso Mariele, em um show. Repugnante.