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Por Daniel da Costa*
“Relacionalidade” é
diferente de relatividade … Esse é um tema que faz parte de minhas pesquisas
e “experimentos intelectuais” em filosofia.
O relativismo (que alimenta seu irmão univetelino, o absolutismo, ou posições
em absoluto) é uma invenção perniciosa dos ideólogos empiristas do antro de
difusão da ideologia liberal no mundo que foi a Inglaterra dos séculos xvii em
diante.
O relativismo nada mais é que absolutismo pulverizado … E posições em
absoluto (ou suposta experiência com o absoluto enquanto tal), por conta da
nossa condição finita, precária e nunca absoluta, é uma ilusão e desrespeito ao
que significa absoluto. Se é que esta palavra tenha alguma sentido, quando a
expressamos, nós seres finitos e históricos, mutáveis e nada absolutos.
Na minha proposta personalista substituo estas duas idéias burguesas
vazias. A de relativismo, substituo por “relacionalidade”, e a de
absoluto, ou posições em absoluto, por “relação com incontornáveis”.
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Assim, no relativismo não é visada uma totalidade, nunca é. Pois o caráter
dinâmico, vivo da totalidade, e que foge e resiste à objetificação
racionalista, é sempre um impedimento ao ímpeto catalogador e objetificável da
razão instrumental da ciência burguesa. Está ciência pressupõe sempre o objeto
como um ponto cartesiano dominável, objetificável, nunca uma totalidade.
Por outro lado, com as atuais pesquisas em hermenêutica histórica e fenomenologia,
das quais o *personalismo de Emmanuel Mounier bebe,* corrente filosófica
que sigo, é sempre uma totalidade que se relaciona. Mas limitada pela finitude
e temporalidade próprias da condição temporal humana. Daí que, para o
personalismo, toda relação se dá em perspectiva. Perspectiva tanto do objeto
para com o sujeito (o objeto também tem voz e impõe sua resistência) como do
sujeito para com o objeto.
Minha relação com um objeto dado, portanto, nunca se exaure numa pragmática da
dominação, da vontade de poder. Pois é sempre conscientemente em
perspectiva …
Daí, o ideal de domínio do objeto pelo sujeito, típico da ciência burguesa
destilada pela ideologia liberal no Ocidente e no mundo, fica contestado na
epistemologia (teoria do conhecimento) personalista. E, em vez de
privilegiarmos na relação o *objeto,* como foi o caso na Antiguidade e Idade
Média, ou o *sujeito* , como se deu na fundação do mundo burguês moderno no
qual ainda vivemos, herdeiro do racionalismo, do liberalismo e de sua
“ciência”, *o personalista abraça a própria relação enquanto tal* .
Na qual tanto o objeto quanto o sujeito são levados em conta em sua totalidade
ausente ( mas que permanece como ideia orientadora). Para o personalismo, o que
o objeto de conhecimento se nos dá a conhecer é a partir de certas cifras, de
certas perspectivas cujo anúncio depende do desenvolvimento da capacidade de
compreensão de cada um de nós.
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Assim, fica claro que uma outra cultura e educação, do que a que vem sendo empurrada há 500 anos no mundo burguês moderno como “única ciência possível”, como único modo de conhecimento válido, é exigida.
Em substituição à primeira pessoa do singular do “eu penso” cartesiano, Mounier propõe o início de uma nova sociedade baseada na primeira pessoa do plural “nós pensamos juntos e amamos, logo, a vida vale a pena”.
Assim, em vez de pura dominação, vontade de poder, passamos para o campo da “interpretação”; com incidências para a vida ética, moral e política insuspeitaveis a nossa vida marcada pelos reflexos do individualismo e da indisponibilidade burguesas.
Com o personalismo, então, passamos para o campo da “compreensão”. Que é capacidade de ir além do pontual em vista de alcançar um todo que sabemos ser inesgotável.
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Para o personalismo, o
conhecimento autêntico é antes uma aventura, um risco a correr do que um ato
que se exaure na vontade de dominação, vontade de poder.
Aquilo que é dado imediato, na ciência burguesa, para nós, se torna
“mediato” nas relações, caminho de busca. Não para controle só,
mas como ato de respeito ao objeto. Porque diante da recusa do objeto em se
objetificar totalmente, reconheço meu limite perspectival de conhecimento em
relação a ele.
* Bacharel,
licenciado, mestre e doutor em filosofia pela USP; bacharel em teologia pela
Faculdade Teológica Batista de SP; pedagogo licenciado pela FALC; autor de
artigos de filosofia em veículos especializados e livros coletânea; autor do
livro *O cristianismo ateu de Pierre Thevenaz* (no prelo); tradutor de mais de
trinta livros nas áreas de filosofia, ciências da religião, ciências humanas e
teologia; músico profissional (guitarrista) e jornalista. Colunista do Cartas
Proféticas.
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Apesar da inundação fundamentalista, que nos torra com falsas verdades do mundo "pós verdade", cheio de arrogantes em Bíblia, em Deus e em discursos sem sentido, eis um evangélico sério, doutor em filosofia e teólogo que nos desafia ao conhecimento inesgotável de todas as coisas. Vale a pena! Acesse e compartilhe o link do Cartas Proféticas: http://cartasprofeticas.org/para-a-filosofia-personalista-de-emmanuel-mounier-conhecer-um-objeto-e-compreende-lo-em-seu-ser-inesgotavel/